quinta-feira, 13 de outubro de 2016

As 7 causas do esfriamento espiritual


As Sete Causas do esfriamento Espiritual
(Livro: A Era do Gelo na Igreja - Capitulo III)

O esfriamento espiritual não é algo que acontece de repente, num abrir e fechar de olhos. Trata-se de um processo que acontece pela conjugação de alguns fatores ou causas.

Se quisermos fugir do esfriamento espiritual temos que conhecer bem essas causas a fim de estarmos nos prevenindo continuamente e caso detectemos que já estamos sob a influência do esfriamento que possamos combatê-lo em sua origem, ou seja, em suas causas. Conhecer as essas sete causas também nos capacitará a ajudar outras pessoas.

Pecados não confessados
Uma das causas mais facilmente identificadas do esfriamento espiritual tem a ver com pecados não confessados.

Quando deixamos de confessar nossos pecados e permitimos que eles se acumulem em nossas vidas vamos nos tornando cada vez mais frios espiritualmente e vamos perdendo a sensibilidade para ouvir a voz do Espírito Santo.

Além disso, quando não confessamos nossos pecados, abrimos brecha para a atuação demoníaca em nossas vidas. Sim, pecados não confessados conferem ao inferno uma espécie de autorização legal para influenciar nossas vidas.

Quando confessamos nossos pecados recebemos imediatamente o perdão e a purificação, e com isso, entramos de novo debaixo da proteção divina.

Falta de oração e jejum
Sabemos que a oração é vital para a manutenção de uma vida espiritual plena. Quanto mais oração maior a intimidade com Deus.

Uma das causas do esfriamento espiritual é a falta de compromisso com a oração e com o jejum. O nosso adversário sempre trabalha para nos fazer parar de orar. Ele sabe que a oração nos fortalece para vencer tanto o pecado como para confrontar as forças demoníacas. O jejum, por sua vez, é a abstinência de alimentos com um propósito espiritual. Quando jejuamos enfraquecemos a nossa carne e fortalecemos o nosso espírito. Podemos orar sem jejuar, mas jamais poderemos jejuar sem orar. 

Distanciamento da palavra
Outra causa do esfriamento espiritual é o distanciamento da palavra de Deus. 

É através da Bíblia que ouvimos Deus falar conosco. Quando nos afastamos da Palavra com certeza nos afastamos de Deus pois deixamos de ouvir a sua voz.

A Palavra de Deus é que nos corrige, nos exorta, nos ensina, nos consola e nos exorta.

Quanto mais cheios da Palavra somos mais cheios do Espírito Santo e da unção do Pai.

É a firmeza na Palavra que nos garante a vitória contra o inimigo das nossas almas nos ataca.

Jesus venceu a todas as tentações utilizando-se da Palavra de Deus e com isso Ele nos deu a senha para o sucesso.

Quando nos distanciamos da palavra perdemos o referencial de santidade e saímos do propósito que Deus tem para nós.

Afastamento da vida do corpo
Uma das causas que contribuem para o esfriamento espiritual é o afastamento da vida do corpo de Cristo. A Bíblia nos diz que quando nos convertemos somos imergidos, batizados no corpo de Cristo e somos inseridos em uma família, um organismo vivo. A igreja, enquanto organismo vivo ela interage em todas as partículas do corpo vivificando cada pedacinho do corpo. Quando estamos ligados no corpo recebemos proteção do todo. 

Assim, quando somos atacados, recebemos o reforço de todo o corpo já que todas as orações e jejuns que são feitos pelas partes do corpo beneficiam a todos indistintamente.

Assim como os glóbulos brancos se deslocam para o local do corpo humano onde há algum ferimento, da mesma forma, ocorre no corpo de Cristo.

Assim como o alimento no corpo humano entra pela boca mas produz efeitos sobre toda a estrutura do organismo, ministrando força aos membros, assim também ocorre no corpo de Cristo, pois quando estamos ligados a ele somos alimentados.

Por outro lado, devemos fazer uma analogia entre a igreja e uma fogueira. Quando tiramos um graveto da fogueira ele facilmente se apaga, mas quando o colocamos de volta à fogueira, ele é novamente aceso.

Materialismo ou prosperolatria

A prosperolatria como o próprio nome já diz é a idolatria da prosperidade. Vivemos em um sistema capitalista e é da natureza do capitalismo estimular a acumulação de riqueza, pois neste sistema as pessoas só valem o que têm.

O espírito do capitalismo nos seduz com muita facilidade, principalmente a nós brasileiros que vivemos durante tanto tempo tão perto da pobreza.

A pobreza nos exclui dos privilégios mais básicos da vida; a pobreza nos torna carentes de tudo que é material; a pobreza diminui a nossa auto-estima; a pobreza atenta contra a nossa dignidade enquanto seres humanos. A pobreza assassina os nossos sonhos, aniquila nossas esperanças, nos torna vulneráveis e rouba nossos filhos para a criminalidade. A pobreza nos desestabiliza enquanto pessoas.

Numa realidade como esta que acabo de descrever e que pode ser facilmente compartilhada pela imensa maioria dos brasileiros e latino americanos, o simples aceno do ter pode ser extremamente sedutor.

É por isso que a teologia da prosperidade caiu como uma luva em solo brasileiro. Quem é que não quer ficar rico? Quem é que não quer sair da pobreza? Quem é que não quer comer o melhor desta terra?

De certa forma temos que ser gratos pela teologia da prosperidade, pois ela alavancou dentro de nós uma fé que nos impulsionou a querer ir mais longe, a alcançar e comer o melhor dessa terra.

De fato Deus tem prazer em abençoar seus filhos. De fato, a redenção toca todas as áreas da nossa vida. De fato, Jesus levou sobre si as nossas maldições, inclusive a maldição da miséria. De fato Jesus triunfou sobre os principados e potestades, inclusive sobre o principado da miséria. De fato a fé aliada ao trabalho nos leva a conquistar e a conquistar inclusive bens materiais.

Entretanto a história se repete. Aconteceu conosco parecido com o que aconteceu com Israel quando saiu do Egito. Durante 430 anos eles foram escravizados e explorados pelos algozes egípcios, mas chegou o dia do basta de Deus em suas vidas. 

Deus os arrancou com mão forte das mãos de faraó, mas não permitiu que saíssem de lá de mãos vazias. Ordenou que eles pedissem cada um aos seus vizinhos, ouro e prata e aqueles vizinhos impactados com o poder de Deus e amedrontados com o juízo dos céus, deram todo o ouro e a prata que tinham aos israelitas. Assim, o povo de Deus saiu do egito levando consigo a riqueza daquela nação. Era a prosperidade que chegava finalmente, depois de tanto sofrimento e exploração. Eles ficaram como quem sonha.

Entretanto, o que aconteceu na primeira parada do povo no monte Sinai? Moisés subiu ao monte para orar e receber as tábuas da lei e lá permaneceu por 40 dias. O povo, impaciente, com a demora, pressionou a Arão, irmão de Moisés para que fizesse a imagem de um deus para representar o Deus invisível que os tirara do Egito. 

Assim, eles trouxeram parte do ouro que haviam recebido como prosperidade de Deus e o transformaram em um bezerro de ouro, e diante dele passaram a festejar e celebrar sua prosperidade adorando aquele ídolo e se entregando a todo tipo de orgia e prostituição.

A cena e os personagens são diferentes, mas a essência é a mesma. A igreja evangélica brasileira, enquanto vivia na opressão da pobreza, buscava a Deus com diligencia e santidade. Tão logo as portas se abriram e as finanças melhoraram, aos poucos, a prosperidade que foi dada como dádiva por Deus, vem se tornando um laço para a vida espiritual.

Em nome da busca pela prosperidade as pessoas passaram a não ter mais tempo para Deus e para a Sua palavra. Em nome da busca por mais prosperidade, deixaram de lado o compromisso com a igreja local.

É este o triste quadro que vemos hoje em boa parte das igrejas. Passaram a idolatrar a prosperidade e com isso esfriaram-se na fé.
Cumpriu-se o que Paulo disse:
“Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”
[I Timoteo 6:9-10]

Rebelião
A rebelião dentro de nossas igrejas tem sido uma séria causa do esfriamento espiritual de muitos.

A rebelião é algo inerente à natureza adâmica que habita dentro de cada um de nós. O nosso velho homem é rebelde por natureza.

Rebelião e independência sãos como as duas pernas de uma mesma tesoura, se completam e são mesmo inseparáveis.

O rebelde quer fazer as coisas do seu jeito e no seu tempo e não aceita intromissão de ninguém. Ele tem sede por controle. Quer controlar a sua própria vida e a de quem estiver perto dele.

É por isso que o profeta Samuel afirma que o pecado da rebelião é como o pecado da feitiçaria [I Sm.15:23]. Assim como os feiticeiros são capazes de oferecer qualquer tipo de sacrifício aos demônios para controlar e manipular a vida das pessoas por meio dessas mesmas forças demoníacas, da mesma forma, o rebelde tem sede por manipulação.

O rebelde é um questionador por natureza. Ele precisa ser convencido para então poder obedecer. Ele possui argumentação convincente e costuma ser arrogante na defesa de suas razões.

Uma das maiores dificuldades do rebelde está em se sujeitar a qualquer autoridade delegada. A primeira coisa que o rebelde procura fazer é desqualificar a pessoa que está investida de uma autoridade delegada por Deus e que está acima dele.  

Ele é capaz de se fazer passar por amigo da autoridade para descobrir seus pontos vulneráveis e depois expor para outros. Rebeldes não possuem escrúpulos e jamais guardam segredos.

Em alguns casos as pessoas rebeldes carregam consigo sérios problemas de rejeição. Elas mesmas nem sabem disso, porque muitas vezes a questão está inacessível, guardada a sete chaves no inconsciente da pessoa e o trauma que deu origem a essa rejeição pode ter acontecido ainda no útero da mãe ou na mais tenra infância. Neste caso, o rebelde está o tempo todo na ofensiva para tentar se vingar muitas vezes de um adulto (pai ou mãe ou os dois) que o tenham rejeitado. Assim toda figura que representa autoridade deve ser contestada como forma de protesto contra a rejeição que sofreu. 

Esse desequilíbrio costuma acompanhar a vida da pessoa, manifestando-se em forma de rebeldia a tudo e a todos.

Quando nos levantamos contra autoridades instituídas por Deus, atraímos sérias consequências para a nossa vida espiritual. Há um peso de maldição sobre aqueles que agem em rebeldia.

Infelizmente cresce assustadoramente a quantidade de pessoas que falam mal de lideranças e se levantam contra seus líderes espirituais. Ao agirem desta maneira abrem uma enorme brecha em suas vidas espirituais, passando a serem usadas pelo nosso adversário que consegue convencer a pessoa de que ela está certa e que está sendo injustiçada.

Enquanto não houver genuíno arrependimento e pedido de perdão perante aquela autoridade contra a qual o rebelde se levantou, acompanhado de ministração de renúncia e quebra de pacto celebrado com as forças das trevas de forma consciente ou inconsciente, sua vida ficará travada e a frieza espiritual tomará conta do seu coração.

De nada valerá mudar de igreja em igreja, por onde ele for, levará consigo a maldição.

Falta de liberação de perdão
A raiz de amargura também é fonte de esfriamento espiritual. A raiz de amargura nos afasta da graça de Deus e impede o acesso do Espírito Santo ao nosso coração.

Pessoas amarguradas não conseguem orar direito, não conseguem ler a Bíblia com devoção, não conseguem adorar a Deus em espirito e em verdade.
Pessoas amarguradas de alma costumam se tornar insensíveis em relação ao mover de Deus e por isso esfriam-se na fé.

O caminho da liberação de perdão é difícil, mas é o único antidoto para trazer paz ao coração de quem está amargurado.

Quando não liberamos perdão permanecemos em uma masmorra sendo castigados por verdugos, como ensinou Jesus na parábola do credor incompassivo:
“Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.

Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?

E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia.

Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.”

[Mateus 18:32-35]


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Quando a era do gelo chega à igreja - parte II

Sintomas do esfriamento Espiritual

O esfriamento espiritual possui alguns sintomas.

A palavra sintoma pode ser traduzida como sendo um indício que revela uma alguma lesão ou perturbação funcional em um órgão.

Os sintomas nos ajudam a identificar uma dada realidade e servem para nos guiar na constatação do que de fato está acontecendo em um dado momento.

A pergunta a ser feita é: Quais são os sintomas que demonstram que estamos sob a influência de um esfriamento espiritual?

O Dr. Russel Shedd identificou alguns destes sintomas e por isso tomamos emprestado dele o que descrevemos a seguir, ampliados por nossos comentários:

Quando já não temos apetite para as coisas espirituais
Um dos primeiros sintomas do esfriamento espiritual acontece quando perdemos o apetite pelas coisas espirituais. Simplesmente não temos vontade de orar, jejuar, ler a Bíblia, ir ao culto, participar de uma vigília, ou de qualquer outra atividade espiritual.

Quando a oração deixa de ser vital
Quando estamos frios espiritualmente relegamos a oração para um plano secundário. Tomamos as rédeas da nossa própria vida e enfrentamos tudo na força do nosso próprio braço. A vida de oração perde a razão de ser e não sentimos qualquer necessidade de orar.

Quando a Bíblia passa a ser apenas um enfeite
A frieza espiritual nos distancia da Bíblia que deixa de ser a nossa bússola para ser apenas mais um componente do nosso visual de domingo, ou seja, um mero enfeite.

Quando temos vergonha de sermos identificados como crentes
Outro sintoma da frieza espiritual é a vergonha de ser identificado como crente. Parece que essa identidade com Cristo e com sua igreja passa a produzir na pessoa um peso que ela não está disposta a carregar. Ele quer se sentir livre de qualquer compromisso ou rotulação evangélica. A reação é a mesma que o apóstolo Pedro teve quando foi abordado no pátio da casa do sumo sacerdote Caifás. Assim como Pedro a pessoa passa a negar que conhece a Jesus e que o segue.

Quando sentimos vergonha de evangelizar
O crente frio não evangeliza porque tem vergonha de assumir Jesus para o mundo. Não tem nada a ver com falta de preparo para evangelizar, é vergonha mesmo. Não é uma vergonha oriunda da timidez, é vergonha de ser visto como crente.

Quando o conhecimento bíblico torna-se apenas teórico
Quando estamos frios deixamos de olhar para a Bíblia como regra de fé e conduta e a consideramos apenas do ponto de vista teórico. Passamos a saber muito e a até discutir teologia, mas na prática não vivemos a palavra.

Quando os cultos já não são motivos de alegria
A frieza faz com que não sintamos alegria em cultuar a Deus. Vamos para os cultos muito mais por força do hábito ou para cumprir tabela. Ir ao culto passa a ser algo maquinal e desprovido de prazer.

Quando temos vergonha de falar de coisas espirituais
Além de sentir vergonha de ser identificado como crente e de ter vergonha de pregar o evangelho, o crente frio também tem vergonha de entrar em assuntos sobre coisas espirituais. Ele prefere se afastar e se omitir.

Quando esportes, recreação e trabalho tomam o lugar principal da vida e ocupam o lugar de Deus
Outro sintoma da frieza espiritual é o ato de deixar que tudo ocupe o lugar de Deus em nossas vidas. Tudo é motivo para não congregarmos ou para não praticarmos as disciplinas espirituais. Damos desculpas tais como o trabalho, o lazer e a pratica de esportes, mas isso é apenas a ponta do iceberg.

Quando pecados são cometidos e não causam nenhuma dor na consciência
A consciência cauterizada é uma evidência clara de esfriamento espiritual. A prática do pecado se torna algo normal na vida da pessoa e ela já não sente qualquer tipo de culpa quando peca.

Quando a aspiração pela santidade deixa de ser um alvo da nossa vida
O ideal da santidade passa longe daquele se está frio na fé. Não há mais aquele desejo de agradar a Deus, de fugir do pecado e de andar na presença de Deus. O temor do Senhor vai desaparecendo completamente do coração da pessoa.

Quando a aquisição de bens materiais passa a ser o principal foco da vida, ou seja, o materialismo assume o controle
O materialismo se torna um fim em si mesmo. A prosperidade passa a ser a razão de ser da vida da pessoa. Ela só pensa em acumular tesouros nesta terra. O que importa é o ter e não mais o ser.

Quando os louvores cantados na igreja não são verdades vividas
Cantamos apenas por cantar. Nada sentimos e o momento de adoração é apenas de boca pra fora. Não há mais o compromisso de viver o que se canta.

Quando assistimos a cenas eróticas e ou de homossexualismo na TV e não censuramos nem nos indignamos

A frieza espiritual nos leva a enxergarmos o pecado como sendo algo normal e por isso tanto nos permitirmos ver cenas eróticas na TV, como deixamos de censurar o pecado em todas as suas formas.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Quando a Era do Gelo invade à Igreja



“E, por se multiplicar a iniqüidade, 
o amor de muitos esfriará.” (Mateus 24:12)


O serviço de meteorologia celestial adverte: Uma grande frente fria vem tomando conta da noiva de Cristo do Brasil nesses últimos tempos, provocando o maior esfriamento espiritual de todas as épocas.

Por onde quer que ela passa, uma verdadeira tempestade de neve vai congelando tudo que encontra pela frente.

Parecido com uma avalanche, ela começa pequena e vai crescendo de forma progressiva e contínua propagando-se e alastrando-se sem respeitar placas de igreja ou fronteiras geográficas, atingindo de forma violenta a igreja de Cristo.

A primeira região geográfica atingida foi a Europa dos séculos XIX e XX.

Depois a frente fria desceu para os Estados Unidos da América durante a segunda metade do século XX e no final deste mesmo século desembarcou de malas prontas aqui no Brasil.

Quem assistiu ao filme Thor irá se lembrar de um personagem que tinha o poder de congelar tudo que tocava. O esfriamento espiritual funciona mais ou menos assim, onde ele chega vai contaminando as pessoas.

Jesus disse que o esfriamento é o resultado da multiplicação da iniquidade. Mas, o que ele queria dizer quando usou essa palavra? A palavra grega é que aparece nesse texto é Anomia.  que significa dentre outras coisas, desprezo para com a lei ou, dito de outra maneira, é a desobediência (ou pecado) cometida de forma consciente e repetitiva. Neste sentido, a iniquidade anda sempre de mãos dadas com aquilo que chamamos consciência cauterizada. Esta, por sua vez, nos torna insensíveis e indiferentes em relação às coisas espirituais.

Olhando desde esta janela, surge uma pergunta que não quer calar: Como foi que a iniquidade e o esfriamento espiritual tomaram conta da igreja na Europa e América? 

Parte da nossa reflexão é inspirada nas idéias do inesquecível Francis Shaeffer, em sua obra "O Deus que intervem".


O começo de tudo


Por incrível que pareça, a mudança começou através de um único homem, um filósofo que viveu na Europa (Alemanha) do século XVIII, o seu nome era Hegel [1770-1831].

A história do pensamento moderno com certeza pode ser dividida em antes e depois de Hegel.

Mas, o que foi que ele disse de tão importante que mudou de tal forma a maneira de pensar do mundo ocidental?

Hegel criou uma nova maneira(método) de se chegar ao conhecimento ou à verdade, uma nova metodologia.

Até Hegel as pessoas pensavam de acordo com um sistema ou método que pode ser chamado de antítese. E o que é isso?

A forma de pensar por antítese afirma que para cada tese (afirmação) apresentada existe uma antítese (negação), ou seja, se algo é certo, o contrário disso é errado; se algo é verdadeiro, o contrário disso é mentira.

Antítese é a forma de pensar(metodologia) que prevalece tanto na Bíblia como no cristianismo como um todo.

Toda a estrutura do pensamento cristão está alicerçada nesta maneira de pensar. Nossa moral cristã e nossos valores cristãos funcionam dentro dessa categoria de pensamento.

Nossas certezas e convicções partem desse princípio e se firmam sobre ele.

Neste caso, a consequência lógica de se pensar por antítese é acreditar-se que existam verdades absolutas. Verdades absolutas por sua vez são verdades inquestionáveis e imutáveis, estabelecidas por Deus, e válidas em toda parte e em qualquer época.

A proposta de Hegel virou tudo isso de cabeça para baixo. Ele propôs o seguinte: E se ao invés de termos uma tese e uma antítese que a contraponha, chocarmos a tese com a antítese e fazermos surgir algo novo, que não é nem uma coisa nem outra, ou seja, uma síntese?

A princípio a proposição parecia algo inofensivo, mas com o passar do tempo essa ideia foi tomando conta da mentalidade de toda a Europa do século XIX e XX, alterando radicalmente a estrutura do pensamento das pessoas.

As certezas foram sendo gradativamente minadas e demolidas pelo poder deste novo sistema batizado de dialética hegeliana, e desta forma, as verdades, antes tidas como absolutas, ou seja, inquestionáveis, foram perdendo esse status e foram sendo transformadas em verdades relativas. Sim, porque na perspectiva da dialética hegeliana toda verdade passa a ser verdade relativa, pois sofrerá mudança ao chocar-se com sua antítese.

Neste caso, o que até então era tido como certo e certíssimo, perdeu o brilho da certeza e o que era tido como errado, erradíssimo, passou a ser visto com um outro olhar. 

De repente, não mais que de repente tudo passou a ser questionável, inclusive as verdades mais sagradas do cristianismo.

A moralidade cristã passou por um dos momentos mais delicados de sua história, fazendo surgir no cenário europeu uma nova moralidade que podemos chamar de relativismo moral.

Como assim?

Deixe-me dar um exemplo:
No pensamento por antítese adotado na Europa até Hegel e usado pela bíblia e pelo cristianismo como um todo as coisas funcionam da seguinte maneira:
Existe uma tese que é formada por uma afirmação, via de regra, verdadeira, e uma antítese que afirma exatamente o contrário da tese, ou seja, uma negação da tese, uma mentira. Por exemplo:
Tese = Mentir é pecado
Antítese = mentir não é pecado
Ou seja, se algo é certo, o contrário é errado.

Já no novo sistema ou nova metodologia de pensamento por síntese, ou dialética hegeliana, o mesmo exemplo funcionaria da seguinte forma:
Tese = Mentir é pecado
Antítese = mentir não é pecado
Síntese = mentir pode ou não ser pecado, depende da ocasião.

A conclusão a que se chega, adotando-se esse sistema, é que tudo passa a ser questionável e, por conseguinte, relativo, e, neste caso, quem assume essa maneira de pensar já não pode afirmar que existem verdades ou valores absolutos.

Uma verdade ou valor absoluto como dissemos acima é o mesmo que uma verdade ou valor inquestionável, aceito universalmente, ou seja, aceito por todos.

No cristianismo, as verdades absolutas são aquelas definidas pela própria bíblia, que para nós cristãos é a revelação escrita de Deus, revelação essa que é inerrante e infalível.

De repente, não mais que de repente, tudo que era tido como certo e verdadeiro passou a ser atacado e minado pela dialética hegeliana inaugurando assim a era do relativismo.

A expressão relativismo carrega em si a ideia de que aquilo que é certo para uns pode não ser certo para outros e aquilo que pode ser verdade para uns pode não ser verdade para outros. Em outras palavras, não existem verdades absolutas.

Esta nova forma de pensar aos poucos foi invadindo a sociedade como um todo, sendo abraçada em primeiro lugar pela filosofia nos corredores das universidades Europeias, depois pelos artistas, depois pela cultura em geral e por fim pela teologia, instalando assim uma crise sem precedentes no seio da igreja cristã européia.

Foi como um verdadeiro terremoto que abalou as estruturas do cristianismo da Europa chegando depois aos EUA por influencia direta da Inglaterra.

É importante entendermos que esta nova maneira (metodologia) de se chegar à verdade ou ao conhecimento inaugurada por Hegel representou uma espécie de novo alicerce do pensamento das pessoas. E este novo alicerce ou pressuposto relativista é totalmente diferente do alicerce cristão ou pressuposto absolutista ou pensamento por antítese.

Hegel, entretanto, com sua nova metodologia apenas abriu o caminho para a mudança que seria de fato estabelecida a partir de um outro filósofo dinamarquês chamado Soren Kierkegaard (1813-1855).

Enquanto Hegel defendia ser possível se chegar à síntese com o uso da razão, (o que mais tarde ficou provado ser impossível), Kierkegaard chegou à conclusão de que somente conseguiremos chegar à síntese por meio do que ele chamava de um salto de fé ou salto no escuro.

Significa dizer que antes dele, os homens buscavam com otimismo construir uma explicação racional para o todo da nossa existência, um circulo que abrangesse todos os pensamentos da vida e a própria vida, ou seja, acreditavam que o homem partindo do próprio homem (antropocentrismo) poderia encontrar uma unidade na diversidade, usando a razão. Ele chegou à conclusão de que esta estrutura racionalista havia falhado em dar uma resposta baseada na razão, de maneira que toda esperança de um campo de conhecimento uniforme teve que ser abandonada.

Desde então o homem racional, ao tratar das coisas reais da vida tais como propósito, significado e validade do amor, deveria deixar de lado o pensamento racional e dar um gigantesco e não racional salto de fé. Assim, Kierkegaard separou de forma absoluta o racional e lógico da fé.

Imaginemos um prédio de dois andares, no qual o andar de cima passou a ser ocupado pela fé e o andar de baixo pela razão, mas sem qualquer ligação entre eles. Por esta razão Kierkegaard é considerado o pai do pensamento existencialista moderno tanto secular como religioso. Ele foi o primeiro a descer o degrau em direção ao fim da esperança de significado para a vida, o desespero.

Que ninguém se engane, esse salto de fé apregoado por ele não significa fé em Deus, antes deve ser descrito como qualquer experiência não-racional, não-lógica e não-comunicável que dê algum significado à existência. As consequências foram as mais terríveis possíveis. Muitos começaram a buscar esse tipo de experiência por meio do uso de drogas como o LSD. Outros pensaram no suicídio como forma obter tal experiência.

De certa forma, o movimento hippie da década de 50 e 60 é a mais clara tradução desse existencialismo moderno. Nenhuma verdade, nenhuma moralidade, é o que o existencialismo apregoa.

Falemos agora um pouco dos efeitos do existencialismo na teologia. Segundo Francis Shaeffer (in memorian), autor do livro “O Deus que intervem”, que serve de base para este capítulo, a influência do existencialismo fez surgir uma nova teologia no cenário evangélico, dividida entre a chamada neo-ortodoxia e a teologia neo-liberal. O que ambas têm em comum é um erro de sistema, já que se baseiam no uso de uma metodologia errada. Ou seja, “o seu conceito de verdade está errado e por esta causa, aquilo que eles dizem e que parece correto, na verdade significa algo inteiramente diferente daquilo que o cristianismo histórico quer dizer com a mesma frase. “O importante não é o que os teólogos modernos estão dizendo em si, mas sim o que a verdade significa para eles. Eles desistiram da antítese e por conseguinte, da existência de verdades absolutas, e adotaram de vez a dialética de Hegel com sua síntese, acompanhada dos acréscimos de Kierkegaard.”

O teólogo alemão Karl Barth foi a porta de entrada da teologia neste novo sistema de pensar. Barth bebeu na fonte de Kierkegaard e tentou adaptar a teologia ao pensamento existencialista deste filósofo.


Foi Barth quem cometeu o grave erro de afirmar que a Bíblia não é a palavra de Deus mas sim que ela contém a palavra de Deus.

Há uma distância muito grande entre uma afirmação e outra. Quando afirmamos que a Bíblia é a palavra de Deus, estamos dizendo que toda a Bíblia é inspirada por Deus e que por conseguinte ela é a verdade de Deus para as nossas vidas e é a autoridade final em questões de fé e prática. De outra sorte, quando afirmamos que a Bíblia apenas contém a palavra de Deus reduzimos a sua importância e abrimos um leque de possibilidades para que alguém classifique ou identifique o que na Bíblia é e o que não é palavra de Deus.

Foi precisamente este o erro dos teólogos neo-liberais e que acabou por se disseminar entre as igrejas minando a importância da Palavra de Deus. Ao fazer isso, permitiu-se que uma onda de relativismo entrasse pela porta das igrejas e contaminasse a muitos, minando a fé e as convicções das pessoas.

Ao desqualificar a Bíblia, tanto os teólogos liberais, que defendiam a retirada da Bíblia de tudo que fosse sobrenatural, como os neo-liberais, que defendiam que a Bíblia não é a palavra de Deus mas sim que ela contém a palavra de Deus, ambos foram instrumentos usados por satanás para preparar o caminho para que a dialética hegeliana assumisse o controle e ditasse, por assim dizer, as regras da moral cristã, levando as pessoas a se abrirem inteiramente para o relativismo moral.

E isso teve um efeito prático devastador na igreja evangélica da Europa e depois dos Estados Unidos. O pecado deixou de ser visto como pecado e as pessoas foram abrindo mão dos valores cristãos e aderindo à nova moralidade onde tudo é permitido.

O termômetro da santidade na vida dos cristãos evangélicos foi registrando índices cada vez mais baixos, até não se perceber mais sua presença em boa parte das igrejas.

Os jovens foram sendo bombardeados nas universidades e aos montes aderindo a um movimento imperceptível e silencioso, mas igualmente avassalador.

O contágio foi muito pior que o vírus ebola (na Africa) e a contaminação se espalhou rapidamente fazendo vítimas em toda parte e assim gradativamente a fé de multidões foi abalada e dizimada quase que por inteiro. Durante a primeira metade do século XX a devastação tomou conta da igreja europeia e em seguida da igreja americana.



O existencialismo rapidamente ganhou as universidades e depois a sociedade como um todo.

Os efeitos da segunda grande guerra mundial apresentando a mais contundente evidência da fragilidade da vida humana e sua inexorável brevidade com certeza contribuiu para a expansão do desencanto e da desesperança.

Todas essas ideias somente tomaram corpo no Brasil no final do século XX, a partir da década de 80, atingindo primeiramente as universidades.

Aqui do Brasil, tanto o existencialismo como a síntese de Hegel, traduzidos no relativismo moral, foram sendo popularizadas com a ajuda do cinema americano e das telenovelas da rede globo. De repente, não mais que de repente as pessoas passaram a ser confrontadas dentro de suas próprias casas com cenas muito bem elaboradas e milimetricamente planejadas, que induziam as pessoas a fazerem uma nova leitura de situações para as quais suas mentes estavam treinadas a pensar por antítese.

Um bom exemplo disso é a questão do adultério. A quase totalidade da população brasileira por ter sua formação cristã, adotava a posição bíblica de que adultério é pecado. É um típico pensamento por antítese. Trata-se de um absoluto moral estabelecido pela Bíblia. Os autores das telenovelas adeptos da síntese hegeliana e do existencialismo colocavam em cena um casal com um relacionamento bastante desgastado no qual o marido não valorizava a esposa como deveria e inseria uma terceira pessoa(homem) que agia de modo diferente para com aquela mulher carente e rejeitada, e aos poucos convencia os telespectadores de que aquela mulher merecia ser feliz e ser amada e a partir de um processo continuado de investidas, de idas e vindas, com música de fundo, ao final da novela, o telespectador passava a torcer para que aquele mulher traísse o seu marido. Ao torcer pela infidelidade da personagem, as pessoas sem perceberem estavam aderindo á síntese de Hegel. Mais que isso, suas mentalidades estavam sendo modificadas e suas consciências passavam a aceitar o adultério em suas próprias vidas e sem culpa.

Foi assim também com a virgindade, com o divórcio e por fim com o homossexualismo.

Aos poucos, a mente das pessoas comuns foi sendo minada com esse tipo de bombardeio e a moral cristã foi sendo bombardeada pelo relativismo.

A frase que melhor traduz o cerne do relativismo moral e do pensamento por síntese no Brasil é:
“Não tem nada a vê.”

A geração evangélica que nasceu na década de 90 foi muitíssimo atingida por essa nova maneira de pensar. O programa “Malhação” da Rede Globo foi um grande instrumento de disseminação dessa nova moralidade.

A igreja é a todo tempo bombardeada por essa nova mentalidade e essa nova moralidade que no fundo no fundo é uma desconstrução da moral cristã.

Infelizmente, o grau de influência da dialética hegeliana é avassalador dentro de nossas igrejas.

A igreja evangélica brasileira, a cada geração que passa, vem se tornando mais comprometida com o relativismo moral e menos comprometida com a Palavra de Deus. E o resultado disso é uma igreja cheia de pessoas, mas pessoas vazias de conteúdo e sem compromisso com a santidade.

Mais do que nunca, o desafio da igreja de hoje é o de não se conformar com este século. Precisamos ser transformados diariamente em nossas mentes pelo poder da Palavra de Deus, como nos aconselhou o apóstolo Paulo, na carta aos romanos, capítulo 12.

Entender a nova metodologia é o primeiro passo para podermos combatê-la com todas as forças.

Esta reflexão continua nas próximas postagens.